- Sofri um choque enorme - explicou -, do qual nunca hei-de recuperar. É uma questão de semanas. Enfim, tive uma vida agradável, e gostei; sim, meu caro amigo, costumava apreciá-la. Por vezes, penso que, se soubéssemos tudo, partiríamos desta vida com mais alegria.
- Jekyll também está doente - observou Utterson. - Já o viste?
O rosto de Lanyon alterou-se, e a sua mão começou a tremer.
- Nunca mais quero ver ou ouvir falar do Dr. Jekyll - retorquiu num tom de voz elevado e trémulo. - Nada mais tenho que ver com essa pessoa; e peço-te que te abstenhas de qualquer alusão a alguém que considero morto.
- Ora, ora! - apaziguou o Sr. Utterson; e, após um longo silêncio, perguntou: - Posso fazer alguma coisa? Somos três velhos amigos, Lanyon; não viveremos o suficiente para encontrar outros.
- Não há nada a fazer - replicou Lanyon. - Pergunta-lhe.
- Não me quer receber - disse o advogado.
- Isso não me surpreende - foi a resposta. - Um dia, Utterson, quando eu já tiver morrido, talvez venhas a descobrir o que há de certo e de errado em tudo isto. Não posso dizer-te. Entretanto, se quiseres sentar-te e falar comigo de outras coisas, por amor de Deus, fica; mas se não te conseguires abstrair deste maldito assunto, rogo-te por Deus que saias, pois não posso suportá-lo.