Camões - Cap. 10: CANTO DÉCIMO Pág. 161 / 177

CANTO DÉCIMO

«Que exemplos a futuros escritores»

Lusíadas

I

O Tejo o ouviu no algoso de suas grutas,

E em despeitoso brado lhe responde.

Gemem as ninfas que o lidado canto

Inspirado lhe haviam, e em suas telas

Com tristes, negras cores debuxaram

A injúria, o crime, a ingratidão tão feia

Que indelével nos fastos portugueses

É mancha horrenda e vil...

II

Arqueja exangue,

Definha à míngua, só, desamparado

Dos amigos, do rei, da pátria indigna,

O cantor dos Lusíadas. - Ah! como!

Qu’é das gratas promessas do monarca?

Qu’é de tanta esperança lisonjeira?

Perfídia baixa e crua, onde hás pousado?

No coração da inveja e da ignorância,

Do fanatismo bárbaro. Soaram

Tremendos nos ouvidos criminosos

Dos cortesãos hipócritas e astutos

Os livres sons do nobre patriotismo

Com que a treda impostura d’ímpios bonzos

E a tirania infame de validos

O guerreiro cantor asseteara.





Os capítulos deste livro