Camões - Cap. 10: CANTO DÉCIMO Pág. 162 / 177

Nas cavernas do peito refalsado

Ódio cego lh’entrou; os beiços roxos,

Áridos com a sede da vingança,

Mordem convulsos. Nunca tão terrível,

Nua a verdade lhes mostrou seus crimes,

Como na boca desse vate ousado.

III

Vingar-se é força; mas vingança negra,

Feia e covarde a querem. - «Sem amigos,

Sem protectores, pobre, sem arrimo,

À indigência, à miséria aí sucumba,

E de sua ousadia o crime expie.»

Assim no coração lhes fala o ódio;

E o cumpriram assim. Todo no apreste

Da jornada fatal andava o ânimo

Do malfadado moço que em sua cólera

Rei dera o céu ao povo lusitano.

Só armas cura, só vitórias sonha:

Geme entanto a nação, quase pressaga

Do desastre que a aguarda. Em Sintra fora

Resolvida afinal pronta partida,

Que o monarca impaciente apressurava.





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