O Garimpeiro - Cap. 14: XIV – A LAVADEIRA Pág. 114 / 147

A emoção de Elias subiu de ponto.

Não fosse uma excessiva ousadia, uma profanação, teria de um salto transposto a cerca e iria cair a seus pés...

Logo que Joana desapareceu por entre os arbustos do quintal, Lúcia deixou a fonte, e sentou-se sobre a grama do coradouro, pousou a face em uma das mãos, e pôs-se a cismar. Era um modelo perfeito para a estátua de uma náiade. Depois tirou do seio uma carta, e lançou sobre ela um olhar. Seus olhos arrasavam-se de lágrimas.

- Que crueldade, meu Deus, - exclamou ela, - deixar-me assim arrebatadamente, e abandonar-me tão sozinha e desamparada neste ermo... isto é de quem ama deveras?... e além de tudo, a pobreza!... Meu Deus!... não sei o que será de mim... hei de morrer de tristeza!... se me dissesse ao menos onde foi!... eu dera tudo para saber onde ele está!...

Ouvindo estas palavras, Elias não pôde mais conter-se; pulou a cerca, e em dois saltos estava ao pé de Lúcia.

- Eis-me aqui, Lúcia!... eis-me aqui a teus pés! - exclamou o mancebo.

Lúcia assustada deu um grito, e ergueu-se rapidamente. Num relance desatou da cintura o lenço com que suspendia as saias, e com ele compôs os ombros e os seios que trazia quase nus. Lembrava Vénus, quando do traje de ninfa caçadora, em que estava disfarçada, transfigurou-se subitamente aos olhos de Eneias em verdadeira deusa, deixando tombar-lhe aos pés as vestes roçagantes.

- Perdoa-me, minha Lúcia! perdoa a minha ousadia; ela é filha do muito amor que te consagro. Eu estava ali... eu te ouvia, e eu te amo; vê se era possível conter-me. Se ainda me amas, tu me perdoarás.

O sobressalto de Lúcia não tardou em transformar-se na efusão de uma celeste alegria.

- Se ainda te amo!... exclamou, pois duvida ainda?...

- Sou tão infeliz, que custo a acreditar em tamanha ventura.





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