O Garimpeiro - Cap. 14: XIV – A LAVADEIRA Pág. 115 / 147

- Compreendo. Pensa que lhe fui infiel; que traí o nosso amor. Tinha razão para pensar assim; mas quando souber o que houve, estou certa que me há-de perdoar.

- Não tenho nada que perdoar-te; eu é que devo pedir-te perdão de meu estouvamento e precipitação. Meu coração já adivinhou tudo. Mas entretanto conta-me, minha querida Lúcia, conta-me como tudo isso foi...

Aquela entrevista, que o acaso preparara, durou apenas meia hora; mas meia hora de gozos e efusões d’alma, de delícias inefáveis, meia hora tão cheia de amor e felicidade, que aos olhos de Elias compensou largamente dois anos de agros sofrimentos e ásperos trabalhos, meia hora que ele trocaria de bom grado por um século de viver ordinário.

Entretanto Lúcia contou-lhe rapidamente a história de seu projetado casamento com Leonel, as solicitações de seu pai, e as tristes circunstâncias que a arrastaram àquele sacrifício, que além da felicidade lhe custaria também a vida, mas que ela julgava necessário e de seu dever para felicidade de seu pai e de sua irmã.

- E não te lembravas, disse Elias com um triste sorriso, que nesse sacrifício arrastavas mais uma vítima?...

- Oh! se me lembrava!... mas eu nem notícias tinha de ti... e, mesmo que as tivesse, a não estares em circunstâncias de valer a meu pai, levarias a mal esse sacrifício, se infelizmente se consumasse?...

- Não, minha Lúcia... eu não teria remédio senão admirar-te, embora se me estalasse de dor o coração. Mas a carta que te escrevi do Sincorá, acaso não chegou-te às mãos?

- Chegou, Elias; mas em que momento, meu Deus? Eu acabava de dar o meu consentimento, de comprometer solenemente a minha palavra para com meu pai; já era tarde. Faz ideia de quanto era triste e desesperadora a minha posição.





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