O Garimpeiro - Cap. 16: XVI – O MORIBUNDO Pág. 133 / 147

.. mas Deus foi de misericórdia... agora morro sossegado...

Elias ouvia atónito aquelas palavras do velho camarada e não ousava dar-lhes crédito. Eram seguramente delírios da imaginação de um moribundo, e em sua incredulidade quase se envergonhava de toma-las ao sério.

- Pobre Simão!... - refletiu consigo, a razão já o vai abandonando com a vida!

Não podia conceber que à cabeceira de um miserável moribundo a fortuna e a felicidade o esperassem, como por vezes o infortúnio costumava-se ocultar entre as rosas de um festim para nos desfechar um golpe fatal e imprevisto. Todavia não pôde deixar de interromper o velho, e dirigir-lhe com ávida curiosidade esta pergunta:

- Uma lavra!... tu deliras, meu pobre Simão!... onde está ela?...

- Eu já lhe conto... ah! se Vmcê não aparecesse tão a tempo!... Vmcê está duvidando?... aqui está o que lhe há-de fazer acabar de crer... é o diamante, que eu já tinha tirado... isto é seu... se Vmcê não aparecesse, tudo isto ia parar nas mãos daquela malvada mulher, Deus me perdoe a mim e a ela!

Dizendo isto o velho, com a mão trémula e convulsa, ia tirando do pescoço um pequeno saquitel de couro preso a um cordão, em forma de bentinho, e o entregou nas mãos de Elias, dizendo-lhe:

- Corte e veja para acabar de crer, e não cuidar que já estou treslendo...

Elias puxou a faca que trazia presa à casa do colete, e cortou com cuidado o saquitel. Caiu-lhe na mão um punhado de grossos e lindos diamantes. Um lampejo de alegria raiou nos olhos empanados do moribundo que murmurou com voz surda:

- É seu; é tudo seu, patrão.

- Mas, Simão, disse Elias, não deixas no mundo filho, irmão, parente ou amigo, a quem queiras beneficiar?... posso eu aceitar isto sem prejuízo de ninguém?

- De ninguém, patrão, de ninguém.





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