O Garimpeiro - Cap. 16: XVI – O MORIBUNDO Pág. 132 / 147

.. Dize-me, não haverá por aqui algum vizinho que tenha préstimo a não ser essa velha maldita?...

- Oh! patrão, por piedade! não cuide nisso... o tempo é pouco... sinto-me morrer...

- Morrer!... não; tem ânimo, meu Simão... eu vou...

- E quando voltar, me achará morto, e o que é pior ainda, roubado!

- Roubado!... exclamou Elias com um triste sorriso, pensando que aquilo era já o delírio da agonia.

- Sim, patrão; roubado!... fique aí sossegado... tenho muito que lhe contar, e há-de ser já. Depois faça o que quiser.

A curiosidade de Elias era grande, ansiosa, e o estado do velho camarada era com efeito extremo, e ele podia expirar de um momento para outro.

Forçoso foi pois ceder à rogativa do pobre camarada que, com a voz sumida entrecortada de gemidos, a custo pôde fazer a seguinte narração:

- Quando Vmcê se foie embora para o Sincorá, meu único cuidado foi andar esgravatando por todo esse rio abaixo e acima a ver se Deus me ajudava e se eu descobria alguma lavra bem rica para meu patrão. Meu patrão velho, coitado, Deus o tenha em sua glória!... quando ele morreu, deixou Vmcê pequenino a meu cuidado. Como é que eu havia de morrer sossegado se deixasse Vmcê pobre e desamparado neste mundo!... Para mim, pobre velho cansado e sozinho no mundo, o que eu quero fazer com diamante?... era para Vmcê. Com o almocafre no ombro e a bateia na mão andei provando as formações por toda essa beira de rio. Perdi muito tempo, sem achar... mas, Deus louvado, sempre fazia algum vintém para ir passando o resto da vida. A resto Nossa Senhora do Patrocínio me ouviu... sempre achei o que eu e Vmcê andávamos procurando há tanto tempo. Que lavra, patrão!... é uma lavra de estrondo!... eu ia morrer com tamanho pesar, se não lhe pudesse contar!.





Os capítulos deste livro