O Garimpeiro - Cap. 16: XVI – O MORIBUNDO Pág. 134 / 147

Eu sou sozinho no mundo. Se o patrão não aparece tão a tempo, minha herdeira era essa velha desalmada... cruz!... Deus lhe perdoe...

- E quem é esta velha!... que pretendia ela? - conta-me tudo.

- Eu já lhe conto... ah!... meu Deus!... que dor!... parece-me que vou já morrer! Meu Deus!... dai-me força por mais um instante para poder acabar...

Elias olhou para o céu e repetiu do fundo d’alma a súplica do moribundo.

O velho acalmou-se um pouco e continuou:

- Há mais de um mês que caí entrevado e sem poder mover-me, meti-me neste ranchinho onde sempre tenho morado. Achei-me sozinho e sem ter quem me tratasse, morreria aqui à fome e à míngua sem ninguém saber, se não fosse esta velha, única vizinha que há aqui mais perto e que, dando fé de mim que aqui estava abandonado, ofereceu-se para me tratar. Aceitei agradecido a esmola que me fazia e julguei que vinha mandada por Deus. O povo daqui, vendo-me assim andar arredado e sozinho e sempre a garimpar pelos matos, tinha tomado cisma comigo e andava dizendo que eu era feiticeiro, tinha parte com o diabo, e que neste meu ranchinho eu tinha arrobas de diamante enterrado. A velha que dava ouvido a estas coisas, e tentada pelo demónio, veio um dia dar busca em meu pescoço, enquanto eu estava dormindo... eu logo acordei e bem o percebi; mas ela já tinha descoberto o negócio... Foi a minha perdição... Ninguém mais entrou aqui senão ela e uma sua comadre, tão boa como ela, Deus a perdoe! que faz as suas vezes e me fica de sentinela, quando a outra tem precisão de sair. Assim há mais de um mês estou aqui no fundo desta cama... elas não me deixam sozinho um instante e não vejo outras caras senão as delas...

»O certo é que cada vez vou a pior e desconfio... mas, ah! patrão, por alma do defunto patrão velho, não vá dizer a ninguém nem faça mal a essas desgraçadas.





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