O Primo Basílio - Cap. 10: CAPÍTULO X Pág. 289 / 414

- O de óculos?

- O de óculos.

Luísa fez-se muito corada:

- Oh, Leopoldina! - murmurou. E depois de um silêncio, rapidamente.

- Quem to disse?

- Sei-o eu. Disse-o ele ao Mendonça. Sabes que eram unha e carne. Que te dava tudo o que tu lhe pedisses! Disse-lho mais de uma vez.

- Que horror! - exclamou Luísa subitamente indignada. - E tu propões me semelhante coisa? - O seu olhar, sob as sobrancelhas franzidas, dardejava de cólera. Ir com um homem por dinheiro! - Tirou o chapéu, violentamente, com as mãos trémulas; arremessou-o para a jardineira, e com passos rápidos pelo quarto: - Antes fugir, ir para um convento, ser criada, apanhar a lama das ruas!

- Não te exaltes, criatura! Quem te diz isso? Talvez o homem te emprestasse' o dinheiro, desinteressadamente...

- Acreditas tu?

Leopoldina não respondeu: com a cabeça baixa, fazia girar os anéis nos dedos.

- E quando fosse outra coisa? - exclamou de repente. - Era um conto de réis, eram dois, estavas salva, estavas feliz!

Luísa sacudiu os ombros, indignada daquelas palavras - dos seus próprios pensamentos, talvez!

- É indecente! É horrível! - dizia.

Ficaram caladas.

- Ah! fosse eu!... - disse Leopoldina.

- Que fazias?

- Escrevia ao Castro, que viesse e com dinheiro!

- Isso és tu! - exclamou Luísa, arrebatadamente.

Leopoldina fez-se escarlate sob a camada de pó-de-arroz.

Mas Luísa atirou-lhe os braços ao pescoço:

- Perdoa-me, perdoa-me! Estou doida, não sei o que digo!...

Começaram ambas a chorar, muito nervosas.

Tu zangaste-te! - dizia Leopoldina cortada de soluços. - Mas é pra teu bem. É o que me parece melhor. Se eu pudesse dava-te o dinheiro... Fazia tudo. Acredita!

E abrindo os braços, indicando o seu corpo com um impudor sublime:

- Seiscentos mil réis! Se eu valesse tanto dinheiro, tinha-o amanhã!

Nós de dedos bateram à porta.





Os capítulos deste livro