O Primo Basílio - Cap. 4: CAPÍTULO IV Pág. 93 / 414

O Conselheiro bateu as palmas.

- Uma voz admirável! - exclamava. - Uma voz admirável!

Basílio dizia-se envergonhado.

- Não, senhor, não, senhor! - protestou Acácio, levantando-se. - Um excelente órgão! Direi, o melhor órgão da nossa sociedade!

Basílio riu. Uma vez que tinha sucesso, então ia dizer-lhes uma modinha brasileira da Bahia. Sentou-se ao piano, e depois de ter preludiado uma melodia muito balançada, de um embalado tropical cantou:

- Sou negrinha, mas meu peito Sente mais que um peito branco.

E interrompendo-se:

- Isto fazia furor nas reuniões da Bahia quando eu parti.

Era a história de uma "negrinha" nascida na roça, e que contava, com lirismos de almanaque, a sua paixão por um feitor branco.

Basílio parodiava o tom sentimental de alguma menina baiana; e a sua voz tinha uma preciosidade cômica, quando dizia o ritornelo choroso:

- E a negra pra os mares Seus olhos alonga; No alto coqueiro Cantava a araponga.

O Conselheiro achou "delicioso"; e, de pé na sala, lamentou a propósito da cantiga a condição dos escravos. Que lhe afirmavam amigos do Brasil que os negros eram muito bem tratados. Mas enfim a civilização era a civilização! E a escravatura era um estigma! Tinha todavia muita confiança no imperador...

- Monarca de rara ilustração... - acrescentou respeitosamente.

Foi buscar o seu chapéu, e colando-lhe as abas ao peito, curvando-se, jurou que - havia muito tempo não tinha passado uma manhã tão completa. De resto nada havia como a boa conversação e a boa música...

- Onde está Vossa Excelência alojado, Sr. Brito?

Pelo amor de Deus! Que não se incomodasse! Estava no Hotel Central.

Não havia considerações que o impedissem de cumprir o seu dever - Cumpri-lo-ia! Ele era uma pessoa inútil, a senhora D.





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