Os Maias - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 334 / 630

Passou uma escova pelo bigode, e continuou falando para dentro, para a alcova de banho:

- Pois, menino, eu agora o que necessito é o regímen da Quimera. Vou-me atirar outra vez às Memórias. Há de se fazer aí uma quantidade de arte colossal nesse quarto que me destinas, diante de Velasquez... E a propósito, é necessário ir cumprimentar o velho Afonso, uma vez que ele me vai dar o pão, o tecto, e a enxerga...

Foram encontrar Afonso da Maia no escritório, na sua velha poltrona, com um antigo volume da Ilustração francesa aberto sobre os joelhos, mostrando as estampas a um pequeno bonito, muito moreno, de olho vivo, e cabelo encarapinhado. O velho ficou contentíssimo ao saber que o Ega vinha por algum tempo alegrar o Ramalhete com a sua bela fantasia.

- Já não tenho fantasia, Sr. Afonso da Maia!

Então esclarecê-lo com a tua clara razão, disse o velho rindo. Estamos cá precisando de ambas as coisas, John.

Depois apresentou-lhe aquele pequeno cavalheiro, o Sr. Manoelinho, rapazinho amável da vizinhança, filho do Vicente, mestre de obras; o Manoelinho vinha às vezes animar a solidão de Afonso - e ali folheavam ambos livros destampas e tinham conversas filosóficas. Agora, justamente, estava ele muito embaraçado por não lhe saber explicar como é que o general Canrobert (de quem estavam admirando o garbo sobre o seu cavalo empinado) tendo mandado matar gente, muita gente, em batalhas, não era metido na cadeia...

- Está visto! exclamou o pequeno, esperto e desembaraçado, com as mãos cruzadas atrás das costas. Se mandou matar gente deviam-no ferrar na cadeia!

- Hein, amigo Ega! dizia Afonso rindo. Que se há de responder a esta bela lógica? Olha, filho, agora que estão aqui estes dois senhores que são formados em Coimbra, eu vou estudar esse caso... Vai tu ver os bonecos ali para cima da mesa... E depois vão sendo horas de ires lá dentro à Joana, para merendares.

Carlos, ajudando o pequeno a acomodar-se à mesa com o seu grande volume destampas, pensava quanto o avô, com aquele seu amor por crianças, gostaria de conhecer Rosa!

Afonso no entanto perguntava também ao Ega pela comédia. O quê! Já abandonada?





Os capítulos deste livro