Afonso da Maia ficou profundamente afectado, e em Sta. Olávia, mesmo entre os criados, a morte de Vilaça foi como um luto doméstico. Uma dessas tardes, o velho, muito melancólico, estava na livraria com um jornal esquecido nas mãos, os olhos cerrados - quando Carlos, que ao lado rabiscava carantonhas num papel, veio passar-lhe um braço pelo pescoço, e como compreendendo os seus pensamentos perguntou-lhe se o Vilaça não voltaria a vê-los à quinta.
- Não filho, nunca mais. Nunca mais o tornamos a ver.
O pequeno, entre os joelhos e os braços do velho, olhava o tapete, e, como recordando-se, murmurou tristemente:
- O Vilaça, coitado... Dava estalinhos com os dedos... Oh vovô, para onde o levaram?
- Para o cemitério, filho, para debaixo da terra.
Então Carlos desprendeu-se devagar do abraço do avô, e muito sério, com os olhos nele:
- Ó vovô! porque não lhe mandas fazer uma capelinha bonita, toda de pedra, com uma figura, como tem o papá?
O velho achegou-o ao peito, beijou-o, comovido:
- Tens razão, filho. Tens mais coração que eu!
Assim o bom Vilaça teve no cemitério dos Prazeres o seu jazigo - que fora a alta ambição da sua existência modesta.
Outros anos tranquilos passaram sobre Santa Olávia.
Depois uma manhã de julho, em Coimbra, Manuel Vilaça (agora administrador da casa) trepava as escadas do Hotel Mondego, onde Afonso se hospedara com o neto, e entrava-lhe pela sala, vermelho, suando, berrando:
- Neminè! Neminè!