Ecce Homo - Cap. 14: O caso Wagner Pág. 100 / 115

idiota em história, do esteticista suábio Vischer, que felizmente já morreu, opinião que passou de uns jornais alemães para os outros como verdade à qual todo o alemão devia acatamento: «O Renascimento e a Reforma em conexão um com o outro formam um todo significativo como regeneração estética e como regeneração moral». Tais coisas levam-me ao extremo da paciência e vêm-me ímpetos de lembrar aos alemães tudo de quanto já são responsáveis. São responsáveis - é dever dizê-lo - de todos os grandes crimes contra a cultura nestes últimos quatro séculos!...

E sempre pelo mesmo motivo: pela profunda cobardia perante a realidade, que é também a cobardia perante a verdade, pela falta de franqueza que na Alemanha é já instintiva, pelo seu «idealismo»... Os alemães fizeram abortar na Europa a prometedora messe da última grande época, o Renascimento; adulteraram num abrir e fechar de olhos o sentido dessa época, na qual os valores nobres e afirmativos, que sempre têm por si o futuro, tinham 'conseguido impor-se no próprio campo dos valores opostos, os valores de decadência, insinuando-se vitoriosamente nos instintos daqueles mesmos; que a estes últimos defendiam!

Foi Lutem, esse monge fatal, quem restabeleceu a Igreja e, mil vezes pior, o cristianismo no próprio instante em que este sucumbia. O cristianismo, a religião formada da negação da vontade de viver... Lutero, monge inverosímil, que, por causa da sua mesma «inverosimilhança», ataca a Igreja e, por isso, a restabelece... Os católicos tinham bons motivos para fazer festas em sua honra, dedicando-lhe dramas... «Lutero e a regeneração moral». Leve o Diabo toda a psicologia! Sem dúvida que os alemães são idealistas!

E por duas vezes já, quando com extraordinário vigor e





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