Ecce Homo - Cap. 14: O caso Wagner Pág. 101 / 115

esforço de autonomia um modo de pensar rigorosa e seguramente científico estava prestes a impor-se, souberam os alemães encontrar esconsos caminhos para regressar ao antigo «ideal», para de novo harmonizar «verdade» e «ideal», fórmula muito propícia para descartar-se da ciência e garantir direito à «mentira». Leibniz e Kant - eis os dois grandes obstáculos à veracidade intelectual da Europa.

Finalmente, ao aparecer na ponte, entre dois séculos de decadência, uma obra excepcional de génio e energia, bastante grandes para fazerem da Europa uma unidade, unidade política e económica, que alcançaria por fim o domínio do mundo os alemães, com as «guerras da independência», frustraram o maravilhoso sentido que implicava para a Europa a existência de Napoleão, São responsáveis por tudo quanto se seguiu, por tudo quanto hoje está perante nós, responsáveis do absurdo mais contrário à cultura que tem existido, «o nacionalismo», essa doença, essa nevrose endémica de que sofre a Europa, esse proliferar de pequenos estados e pequena política. Arrebataram à Europa sua própria significação e sua razão de ser, empurraram-na para um beco sem saída... Será tarefa ainda possível ligar de novo os europeus?

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E para tudo dizer, por que não consignarei eu a minha suspeita? Os alemães, em relação a mim, fizeram tudo quanto puderam para que a mais formidável missão desse à luz um rato. Portaram-se até agora comigo o pior possível e duvido que no futuro façam melhor. Ah!, como me seria agradável vir a ser neste ponto mau profeta!...

Os meus naturais leitores e ouvintes são presentemente ainda russos, escandinavos e franceses - sê-lo-ão sempre mais e mais? Os alemães só estão representados na história do conhecimento por nomes equívocos,





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