Ecce Homo - Cap. 11: Para além do Bem e do Mal Pág. 92 / 115

O olhar que, sob o influxo da poderosa necessidade, mais longe alcança - Zaratustra possui maiores meios de visão que o Czar - é aqui forçado a abranger de uma só vez o mais próximo, o tempo, o não-nós. O homem teria de alcançar em todos os momentos, no todo e na forma, um tal poder para alhear-se dos instintos, que isso só a Zaratustra seria possível. O esmero na forma, a finura na intenção e o apuro na arte dos silêncios, resultam em primeiro lugar de um dom psicológico exercido com crueldade e dureza deliberadas. Do livro está proscrita qualquer palavra de bondade.

Tudo isto encanta: e quem poderia, enfim, adivinhar que espécie de encantamento requeria tão pródiga bondade como encontrámos em Zaratustra?... Dizendo teologicamente - deveis prestar ouvidos, pois poucas vezes falo como teólogo - foi o próprio Deus que se fez serpente, e se ocultou, terminada a sua obra, atrás da árvore de conhecimento: assim ele descansava de ser Deus... Tudo quanto fizera, demasiado belo o fizera... O diabo não é mais que a ociosidade de Deus ao fim dos sete dias...





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