Ecce Homo - Cap. 12: Genealogia da moral Pág. 93 / 115

Genealogia da moral

Obra polémica

São, talvez, as três dissertações de que se compõe esta genealogia, no que se refere à expressão, à intenção e arte do inesperado, o que até agora de mais inquietante foi escrito. Diónisos é também, como se sabe, o deus das trevas.

O começo induz em erro, é um começo que pode dizer-se frio, científico, irónico, e, além disso, calculado e intencional. Mas pouco a pouco a agitação aumenta; aqui e além o ar é sulcado por relâmpagos; vêm de longe verdades muito desagradáveis acompanhadas por surdos rugidos, até que finalmente se desencadeia um «tempo feroce» em que tudo se precipita com rapidez extraordinária. Por fim, no meio de temerosos estampidos, começa entre as espessas nuvens, a surgir a nova verdade.

O tema da primeira dissertação é a psicologia do cristianismo: o nascimento do cristianismo como espírito do ressentimento, e não, ao contrário do que se poderia crer, como «espírito»... A sua essência, qualquer que seja a maneira de a considerar, é um movimento de reacção, a grande insurreição contra o predomínio dos valores «nobres».

A segunda dissertação revela o enigma da consciência: não é esta, como poderia supor-se, «a voz de Deus no homem». Ê o instinto de crueldade que se volta para o passado quando já não lhe é possível imediatamente satisfazer-se: Aqui, pela primeira vez, aparece na verdadeira luz a crueldade como um dos mais velhos e inalienáveis fundamentos da civilização.

Dá a terceira dissertação resposta ao problema de saber qual a origem do ideal ascético e por que assume tamanho poder; o poder ideal nocivo por excelência, como vontade de fim e ideal de decadência. Resposta: não é porque Deus actua por detrás do sacerdote, como se crê, mas porque, à falta de melhor, o ideal ascético foi o único até agora, o único sem concorrentes.





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