O Retrato de Dorian Gray - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 175 / 335

- Sentemo-nos, Dorian - disse o pintor, perturbado. - Sentemo-nos. E responda-me a uma pergunta. Notou no retrato alguma coisa curiosa? Alguma coisa que provavelmente o não impressionou a princípio, mas que se lhe revelou de chofre?

- Basil! - exclamou o jovem, fincando as mãos trémulas nos braços da cadeira e cravando nele os olhos esgazeados.

- Vejo que sim. Não fale! Espere que eu lhe diga o que tenho a dizer-lhe. Dorian, desde o momento em que o encontrei, a sua personalidade exerceu sobre mim a mais extraordinária influência. Você dominava-me na alma, no cérebro, em todas as minhas faculdades. Tornou-se para mim a encarnação visível daquele ideal jamais visto, cuja recordação nos obsidia, a nós artistas, como um sonho delicioso. Adorei-o. Tinha ciúmes de todos aqueles com quem você falava. Queria-o todo para mim. Só era feliz quando estava consigo. Quando se ausentava de mim, tinha-o presente na minha arte... É claro que nunca lhe dei a conhecer nada disto. Teria sido impossível. Não o haveria compreendido. Eu mesmo quase o não compreendia: Apenas sabia que tinha a perfeição frente a frente e que o mundo se tornara a meus olhos maravilhoso, maravilhoso demais, talvez, pois há perigo nesses dementados cultos, há o perigo de os perdermos, não menos do que o perigo de os conservarmos...





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