O Retrato de Dorian Gray - Cap. 12: Capítulo 12 Pág. 205 / 335

Nunca, porém, incorreu no erro de pôr peias à sua inteligência pela adesão formal a qualquer credo ou sistema, ou de, erradamente, tomar por casa de permanente habitação uma estalagem que apenas serve para nela se passar uma noite ou algumas horas duma noite sem lua nem estrelas.

O misticismo, com a sua maravilhosa faculdade de nos tornar estranhas as coisas vulgares, e o subtil antinomianismo que parece sempre acompanhá-lo impressionaram-no durante uma temporada; e, durante uma temporada, também, inclinou-se para as doutrinas materialistas do movimento darwinista na Alemanha, e achou um curioso prazer em seguir as ideias e as paixões dos homens até as localizar em alguma minúscula célula do cérebro ou em algum nervo do corpo, deliciando-se na concepção da absoluta dependência do espírito de certas condições físicas, mórbidas ou sãs, normais ou doentes. Todavia, como a seu respeito já anteriormente se disse, não havia teoria alguma da vida que lhe parecesse ter alguma importância em comparação com a própria vida. Sentia-se plenamente cônscio da esterilidade de toda a especulação intelectual, quando desacompanhada da acção e da experiência. Sabia que os sentidos, não menos do que a alma, têm os seus mistérios espirituais a revelar-nos.





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