Com o seu sorriso subtil, Lord Henry observava-o atentamente. Sabia o preciso momento psicológico em que se devia calar. Sentia-se intensamente interessado. Espantara-o a súbita impressão produzida pelas suas palavras, e, recordando-se dum livro que lera aos dezasseis anos, livro que revelara muita coisa que não conhecia ainda, perguntou a si mesmo se Dorian Gray não estaria passando por uma experiência semelhante. Ele nada mais fizera do que arremessar uma seta ao ar. Atingira o alvo? Que encantador era o moço!
Hallward continuava pintando com aquela sua maravilhosa e audaz maneira, que tinha o verdadeiro requinte e a perfeita delicadeza que na arte somente provém da força. Parecia nem dar pelo silêncio.
- Basil, já estou cansado de estar de pé - bradou, subitamente, Dorian Gray. - Preciso de me ir sentar lá fora, no jardim. O ar aqui sufoca-me.
- Meu caro amigo, sinto muito. Quando estou a pintar, em nada mais penso. Mas você nunca se portou melhor do que hoje. Esteve perfeitamente quieto.