O Retrato de Dorian Gray - Cap. 20: Capítulo 20 Pág. 322 / 335

Era, realmente, coisa magnífica no seu género, absolutamente sugestiva. Pensei em dizer ao profeta que a Arte tinha alma, mas o homem não. Receio, porém, que ele me não houvesse compreendido.

- Não diga isso, Henry. A alma é uma terrível realidade. Pode comprar-se, vender-se, trocar-se. Pode envenenar-se ou tornar-se perfeita. Existe uma alma em cada um de nós. Sei-o.

- Tem a certeza absoluta, Dorian?

- Tenho.

- Ah! Então deve ser ilusão. As coisas de que a gente tem a certeza absoluta nunca são verdadeiras. É a fatalidade da Fé e a lição do Romance. Que grave você está! Não esteja assim tão sério! Que tem você ou que tenho eu com as superstições da nossa época? Não, nós já não acreditamos na alma. Toque-me alguma coisa. Toque-me um nocturno, Dorian, e, enquanto toca, vá-me dizendo, baixinho, como conseguiu conservar a sua mocidade. Deve ter algum segredo. Eu tenho apenas dez anos mais que você e estou cheio de rugas, gasto, amarelo. Você, Dorian, está deveras admirável. Nunca me pareceu tão encantador como hoje. Lembra-me o dia em que o vi pela primeira vez. Era um bocadinho bochechudo, muito tímido e absolutamente extraordinário.





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