O Retrato de Dorian Gray - Cap. 3: Capítulo 3 Pág. 39 / 335

Escutara-os, rira-se deles, esquecera-os. Nenhuma influência sobre a sua natureza haviam exercido. Viera então Lord Henry Wotton com o seu estranho panegírico da mocidade, o seu terrível aviso da brevidade com que ela se desfolha. Isso abalara-o na ocasião, mas agora, ao remirar-se na imagem da sua formosura, surgia-lhe ante os olhos a plena realidade da descrição. Sim, chegaria um dia em que as rugas lhe encarquilhariam o rosto, o brilho se lhe apagaria dos olhos, toda a graça da sua pessoa se quebrantaria e deformaria. Esvair-se-lhe-ia o escarlate dos lábios e o oiro dos cabelos. A vida que lhe devia animar a alma arruinar-lhe-ia o corpo. Tornar-se-ia terrível, hediondo, grotesco.

Ao pensar nisso, uma dor aguda trespassou-o como uma faca, fazendo-o estremecer em cada fibra delicada da sua natureza. Os seus olhos tomaram o tom da ametista e anuviaram-se de lágrimas. Sentia uma mão de gelo pousar-lhe no coração.

- Não gosta? - perguntou por fim Hallward, um bocadinho melindrado pelo silêncio do jovem, não compreendendo a sua significação.

- É claro que gosta - disse Lord Henry. - Quem é que não havia de gostar? É uma das maiores obras da arte moderna. Dou-lhe por ele tudo o que quiser. Tem de ser meu.





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