Era uma improvisação extraordinária. Sentia cravados em si os olhos de Dorian Gray, e a consciência de que entre os ouvintes havia um -cujo temperamento ele desejava fascinar, parecia aguçar o gume do seu espírito e emprestar cor à sua imaginação. Foi brilhante, fantástico, teve requintes alados de inspiração. Empolgou os ouvintes, que o seguiam com prazer nos seus arroubos. Dorian Gray não desfitava dele os olhos: imóvel na sua cadeira, como que enfeitiçado, os sorrisos sucediam-se-lhe nos lábios, uns após outros, e o assombro anuviava-lhe os olhos graves.
Por fim, disfarçada no trajo do século, fez a Realidade a sua entrada na sala, sob a forma duma linda criada, que vinha comunicar à duquesa que a sua carruagem a esperava. A duquesa torceu as mãos num gesto de fingido desespero.