- Sabe muito bem.
- Não sei, Henry.
- Bom, vou dizer-lhe o que é. Quero que me explique porque é que não expõe o retrato de Dorian Gray. Quero saber o verdadeiro motivo.
- Já lhe disse o verdadeiro motivo.
- Não, não disse. Você disse-me que era porque nele
havia demasiado de si mesmo. Ora, isso é pueril.
- Henry - disse Basil Hallward, cravando nele os olhos -, todo o retrato que é pintado com sentimento é um retrato do artista e não do modelo. O modelo é apenas o acidente, o pretexto. Não é ele que é revelado pelo pintor; é antes o pintor que, na sua tela colorida, se revela a si próprio. O motivo por que eu não quero expor este quadro é eu recear ter nele desvendado o segredo da minha alma.
Lord Henry riu-se e perguntou: - E que tem isso?
- Já lho digo - respondeu Basil; mas nesse momento velou-lhe o rosto uma expressão de perplexidade.
- Sou todo ouvidos, Basil - continuou o seu companheiro, fitando-o atentamente.
- Oh, muito pouco tenho para lhe dizer, Henry - respondeu o pintor - e receio que me não compreenda bem. Talvez até lhe custe acreditar-me.
Lord Henry sorriu e, baixando-se, apanhou da relva um malmequer e quedou-se a examiná-lo.
- Tenho a certeza absoluta de que o compreenderei - replicou, observando atentamente a florinha de pétalas de oiro -, e, quanto a acreditar, eu posso acreditar em tudo, contanto que seja absolutamente incrível.