O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 11 / 102

Nessa tarde, quando o Sr. Utterson regressou à sua casa de solteiro, sentia-se tão abatido que nem o jantar lhe reavivou o ânimo. Como era seu hábito aos domingos, depois de jantar, sentava-se junto à lareira, a ler algumas curiosidades doutrinárias, até que o relógio da igreja vizinha fizesse soar as doze badaladas da meia-noite, momento em que se ia deitar, sóbrio e saciado. Naquela noite, contudo, assim que a mesa foi levantada, pegou numa vela e dirigiu-se para o escritório. Aí, abriu o cofre e retirou de um dos seus recantos mais secretos um sobrescrito onde se lia «Testamento do Dr. Jekyll»; em seguida, de sobrolho franzido, sentou-se a estudar o seu conteúdo. Era um testamento hológrafo, já que o Sr. Utterson se recusara a prestar qualquer assistência na sua concepção, aceitando apenas a responsabilidade de o guardar, depois de redigido. O documento não só especificava que em caso de morte de Henry Jekyll - médico, jurista, membro da Royal Society, etc. - todos os seus pertences passariam para a posse do seu «amigo e benfeitor Edward Hyde», como também determinava que, em caso de «desaparecimento ou ausência inesperada do Dr. Jekyll por um período superior a três meses», o dito Edward Hyde deveria entrar imediatamente na posse dos bens, livre de quaisquer encargos e obrigações além do pagamento de algumas pequenas quantias ao pessoal doméstico ao serviço do médico. Havia muito tempo que este documento era como uma espinha atravessada na garganta de Utterson.





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