O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 12 / 102

Era algo que o ofendia, quer como advogado quer como apreciador dos aspectos sãos e correntes da vida, e para quem toda a fantasia era um sinal de imodéstia. E, se até aí, o que alimentava a sua indignação era o desconhecimento da personalidade do Sr. Hyde, agora, por um súbito revés, era o seu conhecimento. Já era suficientemente mau quando o nome nada lhe dizia; mas agora revelava-se pior, pois começava a revestir-se de atributos detestáveis; e, por entre as volúveis e inconsistentes brumas que durante tanto tempo lhe haviam turvado a lucidez avultou-se-lhe o súbito e nítido pressentimento de que estava perante uma situação demoníaca.

- Pensei que se tratasse de um caso de loucura - disse para consigo, enquanto voltava a guardar o documento no cofre -, mas agora começo a temer que, mais do que isso, seja uma ignomínia.

Dito isto, soprou a vela, vestiu um capote e dirigiu-se a Cavendish Square, a cidadela da medicina, onde o seu amigo e grande médico Dr. Lanyon residia e atendia os seus inúmeros pacientes. «Se há alguém capaz de saber alguma coisa, é o Dr. Lanyon», pensou.

Com o seu porte solene, o mordomo reconheceu-o e, sem mais demoras, conduziu-o à sala de jantar, onde o Dr. Lanyon se encontrava sozinho, sentado diante de um copo de vinho. Era um homem cheio de vigor, saudável, garboso, efusivo e determinado; tinha as faces rosadas e uma madeixa de cabelo prematuramente grisalha. Ao avistar o Sr. Utterson, saltou da cadeira e cumprimentou-o com ambas as mãos. A cordialidade que o caracterizava parecia um pouco teatral, mas era nutrida por um sentimento sincero.





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