- Pensei que se tratasse de um caso de loucura - disse para consigo, enquanto voltava a guardar o documento no cofre -, mas agora começo a temer que, mais do que isso, seja uma ignomínia.
Dito isto, soprou a vela, vestiu um capote e dirigiu-se a Cavendish Square, a cidadela da medicina, onde o seu amigo e grande médico Dr. Lanyon residia e atendia os seus inúmeros pacientes. «Se há alguém capaz de saber alguma coisa, é o Dr. Lanyon», pensou.
Com o seu porte solene, o mordomo reconheceu-o e, sem mais demoras, conduziu-o à sala de jantar, onde o Dr. Lanyon se encontrava sozinho, sentado diante de um copo de vinho. Era um homem cheio de vigor, saudável, garboso, efusivo e determinado; tinha as faces rosadas e uma madeixa de cabelo prematuramente grisalha. Ao avistar o Sr. Utterson, saltou da cadeira e cumprimentou-o com ambas as mãos. A cordialidade que o caracterizava parecia um pouco teatral, mas era nutrida por um sentimento sincero.