O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 2: Capítulo 2 Pág. 18 / 102

- Já agora... - insistiu o Sr. Hyde. - Como foi que me conheceu?

- Pela descrição - respondeu secamente o advogado.

- Descrição de quem?

- De amigos comuns.

- Amigos comuns? - repetiu o Sr. Hyde, num tom rouco. - Quem são eles?

- Por exemplo, o Dr. Jekyl1.

- Ele nunca lhe falou de mim - gritou o Sr. Hyde, num acesso de fúria. - Nunca pensei que pudesse mentir-me.

- Por favor! - respondeu o Sr. Utterson. - Essa linguagem não é decente.

O outro soltou uma gargalhada grosseira; em seguida, com uma rapidez invulgar, abriu a porta e desapareceu no interior da casa.

O advogado ficou imóvel durante alguns instantes, depois de Hyde o ter deixado; era bem a imagem do desassossego e da assombração. Depois, subiu lentamente a rua, parando a cada passo e levando a mão à testa como quem está mentalmente perplexo. O problema com que agora se debatia era daqueles que raramente tinham solução. O Sr. Hyde era pálido e pequeno como um anão; dava a impressão de que tinha alguma deformidade, ainda que não fosse possível apontá-la com exactidão; o seu sorriso era desagradável; comportara-se perante o advogado com uma espécie de mistura letal de timidez e arrogância, e falara com uma voz rouca, sussurrante e, de certa forma, vacilante. Todos estes aspectos lhe eram desfavoráveis, mas não bastavam para explicar o estranho sentimento de repugnância, de aversão e de medo que inspiravam ao Sr. Utterson. «Deve haver mais qualquer coisa», pensou o cavalheiro, com enorme perplexidade.





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