Saindo da sombra, o Sr. Utterson tocou-lhe no ombro e perguntou:
- É o Sr. Hyde?
O homem recuou, sobressaltado, sustendo a respiração.
Mas o medo foi apenas momentâneo; e, embora não tivesse encarado o advogado de frente, respondeu com toda a calma:
- Sou eu mesmo. Que deseja?
- Vejo que vai entrar - retorquiu o advogado. - Sou um velho amigo do Dr. Jekyl1: Utterson, de Gaunt Street. Já deve ter ouvido falar de mim; e, uma vez que se deu a casualidade de o encontrar, achei que poderia deixar-me acompanhá-lo.
- O Dr. Jekyll saiu; não está em casa - replicou Hyde, agitando a chave; e de repente, ainda sem levantar os olhos, perguntou: - Como é que me conhece?
- E o senhor - ripostou o Sr. Utterson -, pode fazer-me um favor?
- Com todo o prazer - respondeu o outro. - O que deseja?
- Permite-me que veja o seu rosto?
O Sr. Hyde pareceu hesitar e, após um instante de reflexão, ergueu bruscamente a cabeça e afrontou Utterson com um ar desafiador; ambos se olharam fixamente durante alguns segundos.
- Assim, já poderei reconhecê-lo - observou o advogado. - Pode vir a ser útil.
- Sim - ripostou o Sr. Hyde. - Foi muito bom termo-nos encontrado; e, a propósito, aqui tem o meu endereço.
E deu-lhe um número de uma rua de Soho.
«Santo Deus!», pensou o Sr. Utterson, «estaria também a pensar no testamento?» Porém, guardou para si próprio esta reflexão, limitando-se a resmungar um agradecimento pela informação.