O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 81 / 102

A noite, contudo, havia muito tempo que já dera lugar à madrugada - esta, apesar da sua escuridão, estava quase pronta para gerar o dia -, e toda a gente que habitava a minha casa estava ainda ferrada no mais profundo dos sonos; decidi então, ébrio de esperança e de triunfo, aventurar-me com a minha nova forma até ao meu quarto. Atravessei o pátio sob a luz das estrelas que me contemplavam; ter-me-ei imaginado, com admiração, como a primeira criatura daquele tipo que a sua insone vigilância alguma vez lhes revelara; percorri furtivamente os corredores, como um estranho na minha própria casa; e, ao chegar ao meu quarto, vi pela primeira vez a aparência de Edward Hyde.

Aqui devo falar apenas em termos teóricos, dizendo, não aquilo que sei, mas o que penso ser o mais provável. O lado maligno da minha natureza, para o qual tinha agora transferido o timbre da eficácia, era menos robusto e menos desenvolvido do que o lado benigno, a que acabara de renunciar. Mais uma vez, no decurso da minha vida, que fora, apesar de tudo, em nove décimos uma vida de esforço, virtude e controlo, esse lado maligno fora muito menos exercido e muito menos consumido. Daí o motivo, na minha opinião, por que Edward Hyde era muito mais baixo, franzino e jovem do que Henry Jekyll. Precisamente como o bem brilhava nas feições deste último, o mal estava ampla e visivelmente estampado no rosto do outro. Além disso, o mal (que ainda acredito ser o lado mortífero do homem) deixara naquele corpo uma marca de deformidade e decadência.





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