Sentia agora que tinha de escolher entre ambos. As minhas duas naturezas tinham uma memória comum, mas todas as outras faculdades eram partilhadas entre elas de uma forma muito desigual. Jekyll (que era complexo), ora com as apreensões mais sensíveis, ora com um deleite cobiçoso, projectava e partilhava os prazeres e aventuras de Hyde; mas este manifestava a maior indiferença por Jekyll, ou só se lembrava dele da mesma forma que o bandido da montanha se lembra da caverna em que se esconde das perseguições. Jekyll tinha mais do que o interesse de um pai; Hyde tinha mais do que a indiferença de um filho. Associar o meu destino ao de Jekyll significava morrer para todos aqueles apetites a que, durante tanto tempo, me dedicara secretamente e que, ultimamente, começara a acarinhar. Associá-lo ao de Hyde significava morrer para um milhar de interesses e aspirações, e tornar-me, de uma vez e em definitivo, desprezado e sem amigos. O negócio poderia parecer desigual; mas ainda havia uma outra consideração para colocar nos pratos da balança, já que, enquanto Jekyll sofria os tormentos do inferno da abstinência, Hyde nem sequer tinha consciência de tudo o que perdera.