O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 88 / 102

Vesti-me rapidamente, tanto quanto fui capaz de o fazer, com roupas do meu próprio tamanho, e atravessei rapidamente a casa, cruzando-me com Bradshaw, que, estarrecido, recuou ao ver o Sr. Hyde àquela hora e com aquela estranha indumentária. Dez minutos mais tarde, já o Dr. Jekyll regressava à sua própria forma e se sentava, com o sobrolho carregado, fingindo tomar o pequeno-almoço.

Na verdade, o meu apetite era escasso. Este inexplicável incidente, esta inversão da minha experiência anterior, à semelhança do dedo profético nos muros da Babilónia, parecia inscrever as letras do meu julgamento; e comecei a reflectir mais seriamente do que nunca sobre as questões e as possibilidades da minha dupla existência. Essa parte de mim que eu tinha o poder de projectar fora, ultimamente, muito exercitada e estimulada; parecera-me que nos últimos tempos o corpo de Edward Hyde havia crescido em estatura e que, quando assumia essa forma, um fluxo de sangue mais abundante me corria nas veias; comecei a vislumbrar o perigo de que, se isto se prolongasse, o equilíbrio da minha natureza pudesse ficar definitivamente abalado, a capacidade de mudar voluntariamente anulada e a personalidade de Edward Hyde passasse a ser, irrevogavelmente, a minha. O poder da droga nem sempre se manifestava do mesmo modo. Uma vez, no início da minha carreira, falhara totalmente; desde então, fora obrigado, por mais do que uma ocasião, a duplicar, e uma vez, com um infinito risco de morte, a triplicar a dose; e estas raras incertezas tinham lançado a única sombra que, até então, se projectara sobre o meu contentamento.





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