O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Mr. Hyde - Cap. 10: Capítulo 10 Pág. 98 / 102

Após as emoções desse dia, dormi um sono pungente e profundo, que nem os pesadelos que me torturavam conseguiram quebrar. Acordei de manhã, abalado, enfraquecido, mas refrescado. Ainda odiava e receava a ideia do bruto que dormia dentro de mim e, obviamente, não me esquecera dos perigos devastadores da véspera; mas estava mais uma vez em casa, na minha própria casa e próximo da minha droga; e a gratidão por haver escapado brilhou de tal forma na minha alma que quase rivalizava com o brilho da esperança.

Depois do pequeno-almoço, caminhava eu despreocupadamente pelo pátio, inalando o ar fresco com prazer, quando fui novamente acometido por aquelas sensações indescritíveis que prenunciavam a transformação; e só tive tempo para me abrigar no meu gabinete, antes que as paixões de Hyde voltassem a vibrar e a gelar dentro de mim. Nesta ocasião, ingeri uma dose dupla para recuperar a minha forma primitiva; mas infelizmente, seis horas depois, estando sentado a contemplar tristemente o fogo, as dores regressaram, e a droga teve de ser re-administrada. Resumindo, a partir desse dia, parecia que somente com um grande esforço, como na ginástica, e somente sob o estímulo imediato da droga, eu era capaz de assumir a fisionomia de Jekyll. A todas as horas do dia e da noite, podia ser surpreendido pelos tremores premonitórios; principalmente se dormisse, ou mesmo se dormitasse por alguns instantes na poltrona, era sempre como Hyde que acordava.





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