Camões - Cap. 1: CANTO PRIMEIRO Pág. 11 / 177

- «Oh! não abandoneis o pobre escravo!»

XI

Do homem, que é mau do berço à sepultura,

Uma só coisa à natureza deixam

Os hábitos ruins que não pervertam:

Do coração é o primeiro impulso.

O gesto aflito do Índio suplicante

Dos remeiros contrai as mãos calosas,

E involuntária a compaixão se pinta

No parecer de todos. - Mas não tarda

A sufocar a débil voz do instinto

O que chamaram reflexão no mundo:

Melhor dirias reacção dos hábitos

Que um instante vergou a natureza.

- «Avante!» clama o torvo mestre. «Avante!»

Como que envergonhado do momento

Que involuntário ao coração cedera.

- «À fé que não» gritou co acento austero

Que tão bem fica aos lábios da virtude,

Quando ante a prepotência ousam de abrir-se,

«À fé que não» bradou, e em pé se erguia austero

O nobre, melancólico soldado,

Sem desfitar do humilde escravo a vista,

«Encontrai a tomá-lo.





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