Camões - Cap. 9: CANTO NONO Pág. 152 / 177

Sentado viram

O génio da montanha, alvas trajando

Roupas de nuvem, dar ouvido atento

Às canções magoadas e suavíssimas

De Bernardim saudoso e namorado.

Bernardim, que das musas lusitanas

Primeiro obteve a c’roa d’alvas rosas,

Com que - em seu mal - romântico alaúde

Engrinaldou para cantar amores

Doces d’alta princesa, - inda mais doces

Favores, que indiscretos revelaram

Êxtase d’alma em derretidos cantos.

Fragueiros inda vivem que de vê-lo

Se acordam pela noite andar vagando

Por os picos da serra no mais alto,

Ora ternas carícias dando ao vento,

Ora imprecando com furor as rocas,

E a miúdo suavíssimas cantigas

De apaixonado assunto modulando.

X

Súbito um dia, de bordão na dextra,

Na opa de peregrino disfarçado

Desce os montes da Lua, e mais erguidas

Serras demanda; em romaria aos Alpes

Parte, a levar o coração votado

A quem talvez, na púrpura, suspira

Pelos andrajos do mendigo amante.





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