Camões - Cap. 9: CANTO NONO Pág. 155 / 177

Toda a odiar-te, inteira a aborrecer-te

Pouca seria. Tu só me roubaste

Aquele coração: tu sim, tu foste.

Tu mo roubaste, que, sem ti, meu fora.

Em vida te adorou; na morte... A morte,

Quem, senão tu, à ingrata lha há causado?

Saudades a privaram da existência.

Consola-me que ao menos não gozaste

Tanto amor, tanta fé, tanta beleza,

Que não mer’cias não. Se digno dela

Houve mortal, a mim, que não a um...»

…………………….«Conde!»

Bradou convulso, e a mão ao ferro leva

O insofrido guerreiro. Mas tranquilo

O rival lhe tornou: - «Sois ofendido?

Desafrontai-vos; ferro e braço tendes.

Nem vos fujo eu: porém a minha espada

Jamais demandará um peito que ela...

Sim, que ela amou. Transviou-me a paixão d’alma;

Bebera o sangue que essas veias gira,

Que nesse coração bate coa vida:

Mas veda-o juramento sacrossanto;

Guardá-lo-ei.





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