Camões - Cap. 10: CANTO DÉCIMO Pág. 164 / 177

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VI

Entanto as velas

Já pelo Tejo undívago branqueiam;

As falanges de intrépidos guerreiros

Cobrem suas longas praias. Lamentando

Estão d’em torno as mães, estão esposas

Os filhinhos nos braços amostrando

Aos pais, que o gesto angustiado voltam

Para os não ver, que se lhes parte alma.

VII

Mas quem são esses dous, que aí na praia

Tão estreitos se abraçam? Correm lágrimas

Por olhos que a vertê-las não costumam;

Em peitos se reprime o adeus sentido,

Peitos que o não contêm.

- «Adeus!... A vida

É mais difícil, filho, do que a morte:

Suportai-a; mostrai-lhes que sois homem,

Que sois cristãos: perdoai...»

- «Perdoar eu!... Nunca.

Malvados que me roubam tal amigo!

Único amparo só que me restava;

Que d’envolta coa pátria, coas esp’ranças

Dum povo inteiro, a vil sepulcro o levam!

Oh! perdoar-lhes, nunca: o derradeiro

Acento de meus lábios moribundos

Será de maldição sobre essas frentes

Carregadas de crime.





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