Camões - Cap. 1: CANTO PRIMEIRO Pág. 17 / 177

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Ao duro nauta

Voltando-se lhe diz:

- «Amigo, é justo

O que pede este nobre cavaleiro.

Duros de coração Deus não ajuda.

Que pesa o pobre escravo? Ir-me-ei a bordo,

E o meu lugar lhe cederei com gosto.

Que tem? Filho de Deus como nós somos.

Mal enroupado? Corações bem nobres

Encobre amiúde o saio remendado.

Se o cavaleiro te ofendeu, seguro

Que não é ele de negar o justo

A quem devido for.»

- «Não sou por certo:»

O guerreiro acudiu; e mal pesada

Tirou pequena bolsa:

- «Aí tendes, mestre;

Poucos pardaus contém... (Menos me ficam,

Talvez nenhuns...» em tom mais baixo e trémulo,

Quase de não se ouvir; nem certo o ouviram.)

«Porém daqui à praia não vai muito,

E a passagem do Jau...»

- «Guarda a tua bolsa»

Ruda interpôs a voz rouca do nauta,

«Cavaleiro orgulhoso; tanto quero

Os teus pardaus, como a tua espada temo.





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