Camões - Cap. 1: CANTO PRIMEIRO Pág. 20 / 177

XVI

Mas quão longe

Me tornou a volver do Tejo ao Thamesis,

Cortado de memórias que o confundem,

O pensamento vago! - Escura a noite

Suas roupas de dó tinha estendido

Pelas torres da ínclita Ulisseia.

Naquele puro céu nem leve sombra:

Ausente era Diana e seu modesto,

Sereno brilho: mas, sem luz que as vexe

Com mais vivo fulgor, se esparze doce

O alvo lume das cândidas estrelas,

Que em trémulos reflexos pelas águas

Do cristalino rio se espelhavam;

Donde consoladora se exalava,

Como um sussurro de viçosas folhas,

A alma brisa da noute, refrescando

Os corpos então áridos das chamas

Com que o touro celeste em fúria ardia.

Raras começam a brilhar nas trevas,

Pelas estreitas góticas janelas,

As veladoras luzes: acalmava-se

O vivaz burburinho da cidade,

E no sossego plácido da noute,

Pouco a pouco, insensível se perdia.





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