Camões - Cap. 1: CANTO PRIMEIRO Pág. 25 / 177

XXI

Longo o calar não foi: com passo trémulo

Do jovem se aproxima o ancião guerreiro:

- «Nesta grande cidade ambos estranhos

Somos, ao que parece.»

- «Estranho eu?... Quase.

Sou e não sou estranho.»

- «Não me é d’uso

O meter mão curiosa nos segredos

De quem os tem.»

- «Segredos não nos tenho:

Sou português, e de ser tal me... prezo.»

- «Mas de Lisboa não?»

- «É minha pátria.

Desejais saber mais?»

- «Minhas perguntas,

Cavaleiro, não são de curioso;

Outra vez o repito: um pobre monge

Tem uma pobre cela e magra ceia,

Mas ambas oferece d’alma e gosto.

É tarde; e se outro hospício à mão não tendes,

Sereis benvindo a um gasalhado humilde

De quem melhor, a tê-lo, o oferecera.

Má noute passareis; mas um soldado

Não teme estrados maus nem leitos duros.





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