Camões - Cap. 3: CANTO TERCEIRO Pág. 48 / 177

O coração é cofre precioso

De que, raro, confia homem prudente

A chave a seu mais íntimo. Guardai-vos

De baratear assim o ouro cendrado

Da amizade fiel (confiança entendo)

A qualquer que sorrindo vos estende

Talvez curiosa mão, que não de amigo.

Em barda os achareis... - oh! perdoai-me,

Sou velho, e pronta sempre a dar conselhos

É minha idade - se prestar-vos pode

Este nada que valho, se ajudar-vos

De obra ou de aviso imaginais que posso,

Ouvir-vos-ei de gosto e de vontade.

Sou vosso amigo, sou: provas nenhumas

De mim tendes; mas Deus, que une as vontades,

E a quem prouve no peito gravar do homem

Esse invisível quê, essa lei mística

Que atrai o coração dum ente ao outro,

Deus sabe se, de quando em Moçambique

Vos conversei primeiro, senti n’alma

Não sei que voz dizer-me: - «Segue esse homem,

Deves amá-lo, é infeliz e honrado.





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