Camões - Cap. 4: CANTO QUARTO Pág. 67 / 177

única esp’rança

Do reino, que, inda mal! já tanto inclina

Da primeira grandeza! - Ah! confiança

Tenho que inda haverá nesse conselho

Um português que português lhe fale,

E com a respeitosa liberdade

Que é nossa natural e um bom rei preza...

Preze ou não, deve ouvi-la: mau conselho

Dará sempre o que, ao dá-lo, se arreceia

Da verdade que diz. - É tarde, é tarde;

Fomos, não somos já.» Continuaram

Em práticas iguais os dois amigos;

Mas o Luso, a quem n’alma se alevantam

Ideias que as da pátria suspenderam,

Dest’arte diz - «Amigo, um dever triste

Me chama, a quê não sei: cobre-o mistério

Com véu impenetrável. Minha vida

Toda há sido de estranhas aventuras.

Quem sabe? - acabará por esta agora.

É de fracos temer, mas de prudentes

Acautelar-se é lei. Meu haver único,

Todos os meus tesouros são um livro.





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