Camões - Cap. 4: CANTO QUARTO Pág. 68 / 177

Pouco valor, - nenhum tem porventura;

Mas de longas fadigas, do trabalho

Da vida inteira é fruto. Escrito em partes

Com lágrimas há sido, e bem pudera

Com sangue em muitas. Sobre os calvos serros

Das montanhas, nos vales deleitosos,

No campo em tendas, na guarita em praças,

No mar entre o arruído das procelas,

Ao dos grilhões nos cárceres - contínuo,

Incessante, indefesso hei trabalhado

Para levar ao cabo a empresa ardida

Deste livro que tanto me há custado.

Já náufrago nas águas desse rio

Onde tudo perdi, de um braço a vida,

Nadando, às ondas confiei revoltas,

Para no outro o salvar. - Este depósito

Em vossas mãos confio. Se mais novas

Não houverdes de mim... quem sabe? acaso

Útil poderá ser à minha pátria.

Ela, e o seu amor, todo o inspiraram,

À sua glória inteiro é consagrado.





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