Camões - Cap. 4: CANTO QUARTO Pág. 75 / 177

- O mar ao longe

Dá longos, ocos brados que rebramam,

Como se desse em vão nalgum rochedo.

VIII

«Éramos cerca do famoso cabo

A que mudou boa esperança o nome

Que primeiro lhe demos, das tormentas.

Ao pensar em tão ásperas fadigas,

Tanto sangue perdido, tanta morte,

Tanto naufrágio cru, desgraças tantas

Que a dobrar esse cabo nos custaram

Para ir edificar sublime império,

Novo reino entre gentes tão remotas,

Se me alargava o coração no peito,

Vendo-me português. E é pois tal feito

Feito d’homens?... - O vento repentino

Soprou, rasgaram-se as fechadas nuvens,

E retremeu nos mares o estampido

Dum trovão temeroso. Alheada a mente

Na majestade da procela horríssona,

E em tamanhas ideias confundida,

No ar se me afigurou troar de irada

A potestade





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