VII
«O astro novo, não visto d’outra gente
Antes que o luso nauta lho amostrasse,
Já no hemisfério oposto nos brilhava.
Víamos-lhe essa parte menos bela
Onde raras estrelas pasce a pólo
Ali, pesar de Juno e de seus zelos,
Vimos banhar nas águas de Neptuno
As inflamadas Ursas. Pelos topes
Dos mastos, e no horror da tempestade,
Claro avistámos a azulada chama
Do santo, vivo lume. Oh! recontar-vos
As maravilhas tantas, os prodígios
Que hei visto, longo fora; e conhecidas
Serão elas de vós que os largos mares,
Que as vastíssimas plagas descobertas
Pela nobre ardideza lusitana
Corrido haveis também. Destas paragens
Velas demos ao noto que soprava
Rijo, em vão, contra a força descontrada
Da impetuosa corrente. Ia uma noute
Na cortadora proa vigiando,
Quando atra cerração medonha e feia
Nos fecha o claro céu; amaina o vento,
E em tanta escuridão batendo as velas
Em podre calma, à pavorosa cena
Dobram tremendo horror.