Camões - Cap. 4: CANTO QUARTO Pág. 80 / 177

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Tudo, a golpes contínuos, redobrados,

Vai prostrando o glorioso monumento

Dos Pachecos, dos Castros e Albuquerques.

Qu’é desse esp’rito que animava os fortes?

Qu’é desse vivo ardor de fama honrada

Que faiscava em lusitanos peitos,

E a arriscadas acções, a empresas grandes,

A mais que humanos feitos os levava?

Extinguiu-se, acabou. Já fomos Lusos;

Fomos: - de nossa glória o brado ingente

Breve será clamor que geme longe,

Como voz de sepulcros esquecidos

Balda soando no porvir que a ignora.

XII

«Que me restava a mim, que me era dado

Em tal descaimento, em tal baixeza,

Cometer, perpetrar? - Inúteis p’rigos

Em guerras mais inúteis, cicatrizes

Mal prezadas de quem valia ignora

Do sangue desparzido em prol da pátria

Que podiam valer-me? De indignado

Ergui a voz, clamei contra a vergonha

Que o nome português assim manchava,

Esconjurei as sombras indignadas

Dos heróis fundadores dum império

Que tão bastardos netos destruíam.





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