O Garimpeiro - Cap. 14: XIV – A LAVADEIRA Pág. 108 / 147

Se tivesse alma maldosa e vingativa, oferecia-lhe então uma bela ocasião de espezinha-lo humilhando- o com a sua visita; a sua presença por si só seria um sarcasmo vivo que devia encher de confusão e vergonha aquele homem outrora tão fátuo e ambicioso. Mas Elias nada tinha de vingativo e rancoroso. Sua alma nobre era incapaz de desrespeitar o infortúnio de quem tanto adorava.

Entretanto crescia-lhe o desejo cada vez mais impaciente de ver Lúcia.

Passado o abalo e a comoção violenta dos primeiros dias, e enfraquecido o corpo pela enfermidade, acalmou-se a irritação do espírito do infeliz mancebo, começou a refletir com mais frieza, e uma voz interior como que o advertia de que Lúcia era inocente, e o amava ainda como sempre, e que algum motivo muito poderoso a forçara a condescender com a vontade de seu pai.

Posto que ainda bastante fraco, Elias parecia lesto e disposto como em seus dias de perfeita saúde; uma força interior o reanimava como por encanto. Seu primeiro cuidado foi ir ver, ainda que a certa distância, a casinha em que viera habitar a família do infeliz major. Era uma tosca choupana, a última que se via à orla do caminho que seguia rio acima para o comércio de Mundim. Mas essa choupana aos olhos de Elias tinha mais encantos que um palácio: era o templo que encerrava uma divindade.

Sentado sobre a relva que se estendia pela encosta acima em frente de sua casinha, esteve por largo tempo contemplando- a e examinando- a minuciosamente; mas não viu ninguém. Apenas a fumaça que saía pelo telhado, e algum rumor confuso de vozes atestavam que a choupana era habitada. Depois de estar ali mais de uma hora a contemplar a casa, e embebido em mil pensamentos, ora risonhos e esperançosos, ora amargos e sombrios, a porta se abriu, o Major saiu, e imediatamente a porta se fechou.





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