O Garimpeiro - Cap. 14: XIV – A LAVADEIRA Pág. 109 / 147

Envolvido num largo sobretudo, chapéu de pêlo de lebre, carregado sobre os olhos, a cabeça descaída sobre o peito, arrimando-se a uma grossa bengala, lá ia o Major a caminho da povoação.

Ao vê-lo, Elias teve o mais profundo dó e sentiu apertar-lhe o coração.

Como estava a certa distância do caminho, o Major passou sem vê-lo.

- Onde irá aquele infeliz pai, pensava Elias; que irá fazer? Irá talvez envidar os últimos esforços para achar algum meio de manter com decência sua pequena família, tão digna de melhor sorte! irá talvez vender alguma jóia que ainda resta a suas filhas, para dar-lhes um pedaço de pão!... E a que portas vais bater, infeliz Major!... de uns monstros sem consciência e sem entranhas, que folgam com a desdita alheia, como folga o urubu ao ver expirar o animal em que vai cravar o imundo bico faminto de carniça. Esses mesmos, que ainda ontem regozijavam-se em tua casa, comendo e bebendo à tua custa, hoje apenas se dignarão testemunhar-te um pouco de compaixão. Cega-os a gana do dinheiro; piores que os lobos, são capazes de devorarem-se uns aos outros por um punhado de ouro. Major! Major! eles vos arrancarão até a camisa do corpo, e tomai bem cuidado sobre vossas filhas! eles são capazes de roubar-te esse único tesouro de teu coração, esse último consolo de teu infortúnio!...

A voz da velha enfermeira o veio despertar daquelas sombrias reflexões.

- Olá, senhor Elias!... o que está aí a banzar?... fuja desse sol, que está ficando muito quente; venha tomar seu caldo. Então? - perguntou ela depois que Elias se aproximou; então, viu os novos vizinhos?

- Vi somente o velho: é muito meu conhecido.

- Falou com ele?

- Não; ele saiu de casa, e passou por mim sem ver-me; coitado! vai tão cabisbaixo! ainda ontem era rico; hoje, minha velha, talvez lhe possamos dar esmolas!

- Forte pena!.





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