O Garimpeiro - Cap. 8: VIII – ELIAS Pág. 69 / 147

Trémulo e coberto de horrível amarelidão, mal se podia suster agarrado ao peitoril da janela.

Posto que já o sol tivesse entrado, e já fosse escasseando a luz do dia, o negociante não deixou de perceber a extrema perturbação e o transtorno das feições do rapaz...

- O que tem, meu amigo?... ainda agora parecia vender saúde, e agora o vejo tão pálido e desfigurado? está sofrendo decerto algum incómodo?

- Nada... quase nada. São acessos de intermitentes, que apanhei no Rio S. Francisco, e que às vezes ainda se repetem; mas passam logo.

- Ah!... ninguém lá vai que as não apanhe. Deite-se neste canapé, enquanto vou lhe mandar trazer um copo de vinho quente com açúcar; dizem que é bom. Depois, se quiser, chamarei médico...

- Aceito o vinho; mas não será preciso tomar maior incômodo; isto passa logo.

Elias aceitou o oferecimento mais para se ver a sós com o seu desespero, do que por necessidade que tivesse de auxílio algum. Seu coração, que até ali se enchia a transbordar de esperanças e venturas, sentiu-se subitamente atracado entre as garras da mais cruel decepção. Mil projetos desencontrados lhe tumultuavam na cabeça. Ora queria ir imediatamente ver Lúcia, exprobrar-lhe sua perfídia, e apunhalar-se à sua vista. Mas isso seria uma triste vingança: não convinha deixa-los vivos e felizes sobre a terra. Iria procurar primeiro o infeliz sedutor, esbofeteá-lo, cuspir-lhe no rosto e depois arrancar-lhe as entranhas, e com o mesmo punhal, ainda fumegante do sangue do vil, imolar-se aos olhos da pérfida... Mas... ele era inocente talvez; ignorava que aquela embusteira já tinha penhorado a outrem por um juramento sagrado o seu amor e a sua mão. A vítima devia ser ela, somente ela. Mas como vingar-se dela?... matá-la?.





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