O Garimpeiro - Cap. 8: VIII – ELIAS Pág. 68 / 147

- Consta, respondeu este com toda fleuma, que todos os seus bens estão empenhados e que, se forem liquidar os seus negócios, não lhe ficará um real, e a propósito, por falarmos no Major, perguntava o senhor há pouco por novidades. Pois saiba que a mais importante que temos, e que agora anda por aí pela boca de todos, é o casamento de sua filha...

- De Lúcia?... - atalhou vivamente o moço.

- Pois de quem mais há-de ser?... então conhece-a?

Elias não respondeu; sentia como uma espécie de vertigem, que o atordoava, como se um raio tivesse estalado junto dele. Agarrou-se ao peitoril da janela para não cair. Assim esteve por alguns instantes, depois dos quais continuou forcejando debalde para dar à sua voz o tom da mais completa indiferença.

- Conheço-a muito; é uma linda menina; mas... diziam-me que era muito esquiva; admira-me que se resolvesse a casar-se, e quem sabe...

- Quem sabe o quê?

- Quem sabe se não vai de muito boa vontade?...

- E por quê não? O noivo é um guapo mocetão, de bonita figura e fino trato, e, o que mais é, muito rico. Ela, como Vcmê. Bem sabe, é a moça mais linda destes arredores; digo-lhe com veras que nunca vi casamento mais bem ajustado. O Major está um pouco arruinado, é verdade; mas o genro é riquíssimo, e, ao que dizem por aí, vai escorar o sogro, o que não lhe custará pouco. Com aquele casamento a felicidade entrou-lhe pela casa dentro.

- Entrou? !... pois já? exclamou o moço com visível perturbação.

- Ou vai entrar, é o mesmo, pois o negócio é decidido, e está por poucos dias. É mais um par de rolinhas amorosas, como dizia um amigo meu meio metido a poeta, que veio fazer seu ninho aqui nas matas da Bagagem.

Elias não teve ânimo de dizer mais nem uma palavra; o coração lhe batia desencontrado; tinha as faces secas e a língua se lhe pegava ao céu da boca.





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