as vastas e formosas Campinas que se estendiam diante de seus olhos, sentiu cobrir-lhe o coração uma nuvem da mais sombria tristeza, e a custo se arrancava daqueles sítios onde deixava para sempre sepultadas suas esperanças e sua felicidade. As rédeas bambaleavam frouxas ao pescoço do animal, que marchava como lhe aprazia, enquanto o cavaleiro se esquecia no abismo de seus melancólicos pensamentos. A cada espigão que transpunha, cada buritizal que via atrás de si pelos imensos chapadões, sentia-se-lhe desfalecer a alma, a fraquear a resolução. Seu imenso amor, talvez também uma réstia de luz de esperança, que ainda lhe bruxuleava no fundo d’alma, ou mesmo algum oculto pressentimento o arrastava para junto de Lúcia. Enfim, tanto refletiu, calculou, devaneou, que, depois de ter cismado muito e andado bem pouco, estaria apenas a três léguas de distância, quando já o sol descambava, torceu bruscamente as rédeas ao cavalo, e voltou a galope.
- Vamos! - exclamou; - quero ir ver com meus próprios olhos a consumação de minha desgraça. Sim! quero ver, assistir a tudo; e seja para ela a minha presença como imagem viva do remorso, e como prelúdio da vingança que não tardará a cair do céu.
Quis o acaso que Elias chegasse exatamente a ponto de assistir ao ato da prisão de Leonel. Depois desta cena a que já assistimos, Elias enterrou outra vez o chapéu sobre os olhos, esporeou o cavalo e seguiu seu destino, murmurando consigo:
- Ah! Lúcia! Lúcia! tu me traíste, mas nem assim meu coração pode odiar-te, e agora sinto-me feliz por te ver livre das garras daquele malvado, do que por me ver tão cabal e solenemente vingado!