- Sim, o jantar... - respondeu Carlos, sem saber o quê, banhado todo num sorriso, como em êxtase.
Correu aos seus aposentos: e junto da janela, sem mesmo tirar o chapéu, leu uma vez mais o bilhete, outra vez ainda, contemplando elevadamente a forma da letra, procurando voluptuosamente o perfume do papel.
Era datada desse mesmo dia à tarde. Assim, quando ele passara defronte da sua porta, já ela a escrevera, já o seu pensamento se demorara nele - quando mais não fosse senão ao traçar as letras simples do seu nome. Não era ela que estava doente. Se fosse Rosa, ela não diria tão friamente «uma pessoa de família.» Era talvez o esplêndido preto de carapinha grisalha. Talvez miss Sarah, abençoada fosse ela para sempre, que queria um médico que entendesse inglês... Enfim havia lá uma pessoa numa cama, junto da qual ela mesma o conduziria, através dos corredores interiores daquela casa - que havia apenas instantes sentira tão fechada, e como impenetrável para sempre!... E depois este adorado bilhete, este delicioso pedido para ir a sua casa, agora que ela o conhecia, que vira Rosa atirar-lhe um grande adeus - tomava uma significação profunda, perturbadora...
Se ela não quisesse compreender, nem aceitar o distante amor que os seus olhos lhe tinham oferecido claramente, o mais luminosamente que tinham podido, nesses fugitivos instantes que se tinham cruzado com os dela - então poderia ter mandado chamar outro médico, um clínico qualquer, um estranho. Mas não: o seu olhar respondera ao dele, e ela abria-lhe a sua porta... - E o que sentia a esta ideia era uma gratidão inefável, um impulso tumultuoso de todo o seu ser a cair-lhe aos pés, ficar-lhe beijando a orla do vestido, devotamente, eternamente, sem querer mais nada, sem pedir mais nada...
Quando Craft dali a pouco desceu, de casaca, fresco, alvo, engomado, correcto - achou Carlos, ainda com toda a poeira da estrada, de chapéu na cabeça, passeando o quarto, nesta agitação radiante.